Perito investigado após afirmar que mulheres fazem denúncias falsas de violência doméstica é alvo de medida protetiva por ofensas contra ex-mulher

O médico legista da Polícia Científica do Paraná Alcimar José Vidolin, investigado por dizer que mulheres fazem denúncias falsas de violência doméstica, é alvo de uma medida protetiva por ofensas contra uma ex-mulher. O g1 teve acesso ao documento expedido pela Justiça em agosto de 2024.

Uma filha de Vidolin também relatou à reportagem episódios de violência psicológica do pai. Confira mais detalhes abaixo.

O g1 entrou em contato com Vidolin, mas ele não respondeu aos pedidos de entrevistas.

Vidolin é perito oficial em Curitiba e também em Joinville, no estado de Santa Catarina. Ele é responsável por elaborar laudos que analisam se uma pessoa sofreu violência física ou sexual. O documento serve como prova em processos judiciais.

g1 teve acesso a uma medida protetiva concedida pela Justiça para uma das ex-mulheres do médico, por suposta prática de violência doméstica e familiar. O documento foi registrado em 16 de agosto de 2024 na Delegacia de Polícia de Massaranduba, em Santa Catarina, onde ela viveu com ele por dois anos.

A vítima relatou aos policiais que Vidolin constantemente a descredibilizava e ofendia com xingamentos. Além disso, a mulher explicou à polícia que, quando o filho pequeno do casal ficava doente, o homem deixava o menino e ela sozinhos e não oferecia apoio ou meios para que a mãe conseguisse levá-lo ao médico.

Procurada pelo g1, a mulher preferiu não se identificar e contou que teve um relacionamento de cinco anos com Vidolin, em união estável. Segundo ela, o ex-marido não chegou a agredi-la fisicamente, mas as ofensas verbais e psicológicas eram frequentes.

"Ele nunca criou uma situação de me bater. Eu também não discutia, ficava em silêncio. Se eu falasse, eram intermináveis as discussões. Porque ele sempre estava certo. Eu ficava em silêncio para evitar coisas mais fortes. Na frente dos outros, era uma pessoa educadíssima, foi isso que me conquistou. Mas era fechar a porta de casa, começava o inferno", afirmou.

Emocionada ao lembrar do dia em que pediu a medida protetiva, a mulher disse que o marido não acreditou que o filho estava doente, mas a situação piorou na madrugada do dia seguinte.

Diante disso, Vidolin viajou para trabalhar em Curitiba com o único carro que poderia ser utilizado pela família e, de acordo com ela, sem prestar qualquer apoio à esposa e ao filho. Conforme relato dela, foi com a ajuda de uma vizinha que a vítima conseguiu levar a criança ao médico.

"Ele vomitando, com diarreia forte, chorando, gritando e eu sozinha com meu filho. Internet estava ruim, ninguém me atendia. Liguei para uma senhora que ajudava lá em casa e ela pediu para o genro dela me ajudar. E ele veio, de madrugada, e falou 'por mim, levamos no hospital'. O meu filho, que tem um pai médico, tive que levar no hospital. O pai negligenciou atendimento para o filho. Isso foi muito dolorido", relembrou.

A atitude do ex-marido foi definitiva para que a mulher decidisse registrar um boletim de ocorrência contra ele e, no mesmo dia, ela contou que pediu a medida protetiva.

Aos policiais que ouviram o depoimento, a vítima ainda declarou que estava deixando a residência do casal para voltar a morar na casa dos pais, em Vacaria, no Rio Grande do Sul.

Atualmente, Alcimar só pode ver o filho a cada 15 dias, contanto que evite contato com a mãe.

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Filha também cortou relações com o pai após anos de violência

A filha de Alcimar Vidolin, que também optou por não se identificar, disse ao g1 que os pais se divorciaram quando ela tinha cinco anos. Situação que, segundo ela, deixou o pai "extremamente revoltado" e o fez descontar na filha a raiva que sentia pela mãe.

Ela é filha de outro relacionamento do médico legista e explicou que, aos 18 anos, cortou relações com o pai, devido a todos os anos de violência psicológica que sofreu.

A filha conta que, em dias de convívio com o pai, ele usava metáforas para ameaçar a integridade da mãe dela.

"Um exemplo seria que ele era um 'tigre enjaulado' e que tinha um menino que 'cutucava' ele com um pedaço de pau. Ele me perguntava se eu achava que a jaula ia segurar o tigre por muito tempo e se o menino não ia receber o que merecia", relatou.

De acordo com o relato dela, o pai também já chegou a dar um spray de pimenta para que a menina espirrasse no rosto da mãe.

Outra situação contada por ela foi quando Alcimar quis coagi-la a sair da cidade em que morava para ir a outro estado, sem avisar a mãe. A tentativa foi contrariada pela menina, que mais uma vez, viu a agressividade do pai.

"Meu pai ficou extremamente agressivo. Deu murros na parede enquanto se aproximava de mim, gritando, até que me chacoalhou. Eu fiz xixi nas calças", relembrou.

As situações relatadas pela filha de Vidolin fazem parte de um processo contra o perito que tramitou no Fórum de Porto Belo, Santa Catarina, em que a mãe pedia a guarda unilateral da filha. O primeiro juiz estabeleceu que a menina não tivesse contato com o pai. Posteriormente, o convívio com ele voltou a acontecer a cada 15 dias por decisão judicial.

A filha relata ainda que, após diversas frustrações amorosas, o pai passou a usar termos pejorativos para se referir às mulheres, além de desprezar direitos femininos referentes ao trabalho e ao uso de anticoncepcionais.

"Meu pai apoia agressão à mulher e declarou num café da tarde, diante da família, que 9 de 10 mulheres merecem apanhar, ao se referir às mulheres que ele atendia no exame de corpo de delito", afirmou.

O médico legista Alcimar José Vidolin compartilhou um vídeo nas redes sociais dizendo que a maioria dos casos de violência contra a mulher que atende é baseado em denúncias falsas.

"90% do trabalho hoje é 'violência familiar' e 'violência contra a mulher'. Por que eu coloco entre aspas? Porque em cada caso verdadeiro tem dezenas de acusações falsas pra vingança, para plantagens patrimoniais e alienação parental [...] Cuidado, a tua mulher é teu inimigo. Ela pode destruir você, se ela escolher", disse.

No vídeo, Vidolin também falou que a mulher pode destruir a vida do marido, já que, segundo ele, "não precisa de provas e testemunhas". Além disso, disse que homens têm sido "humilhados" e que órgãos policiais estão de "saco cheio".

No fim, ele encerra o vídeo criticando e descredibilizando as leis que protegem as mulheres.

“É uma engenharia social maligna, não é uma lei para proteger ninguém, é para humilhar, espezinhar os homens, para inviabilizar as famílias e para fazer as crianças crescerem em lares desfeitos, é promoção de injustiça”.

Ao g1, a Polícia Científica do Paraná disse que abriu processo administrativo disciplinar contra o médico legista, o qual ocorre em sigilo de informações e dentro dos prazos estipulados pela legislação.

Entre janeiro e agosto deste ano, no Paraná, foram registrados quase 160 mil casos de violência contra a mulher, uma média de 658 casos por dia. O crime teve aumento de 4,8% em relação a 2023, segundo dados da Secretaria da Segurança Pública do Paraná (Sesp).

Fonte: G1