Pai de homem jogado de ponte por Policial Militar diz que filho está bem e cobra explicações: 'inadmissível'

A Polícia Civil de São Paulo e a Corregedoria da Polícia Militar abriram investigação sobre a morte de um homem que tinha furtado pacotes de sabão em um supermercado. O caso foi registrado há um mês.

Gabriel Renan Soares tinha 26 anos. Ele pegou os quatro pacotes e, na tentativa de fuga, escorregou. O policial militar Vinicius Lima Britto viu quando ele se levantou, recolheu a mercadoria e saiu correndo. O PM disparou 11 tiros.

Gabriel morreu na calçada. No boletim de ocorrência, Vinicius disse que atirou em legítima defesa. Elee foi afastado das atividades operacionais.

A imagem de um policial militar jogando uma pessoa do alto de uma ponte levou a Secretaria de Segurança Pública de São Paulo a afastar das ruas 13 PMs. O caso foi na madrugada de segunda-feira (3).

As imagens mostram cinco policiais perto da ponte. Um deles levava uma moto. Outro conduzia um homem de azul, que não esboçava reação. De repente, o policial pega as pernas do homem e o joga da ponte.

Pessoas que estavam perto do local se espantaram com o que viram. Uma testemunha, que não quer se identificar, diz que viu quando os PMs do policiamento com motocicletas abordaram o rapaz.

"Tinha dois policiais da Rocam parados ali com cacetete na mão, esperando para abordar. Aí, esse menino veio da avenida, virou e aí foi a hora que ele viu os policiais e caiu no chão com a moto. Na hora em que ele caiu no chão com a moto, como os policiais vieram em cima dele, eu e minha amiga saímos correndo", diz a testemunha.

A testemunha diz que a polícia estava no local para dispersar um baile funk que acontecia na rua.

Três metros de altura

Um córrego corta a comunidade da Vila Clara, na zona sul de São Paulo. São cerca de três metros de altura que separam a ponte da Água Rasa. Segundo a família, a vítima caiu de cabeça e machucou o rosto. Foi salva por moradores de rua que estavam embaixo da ponte. O jovem foi atendido em um hospital e agora está em casa.

O Jornal Nacional conseguiu falar com o pai do rapaz. Ele conta que o filho se chama Marcelo, tem 25 anos e trabalha de entregador.

"Está bem, mas não consegui falar com ele... É inadmissível, não existe isso aí. Eu acho que a polícia está aí para fazer a defesa da população, e não fazer o que fez", afirma Antônio Donizete do Amaral, que é mecânico.

Repórter: "Como seu filho é?"

"Trabalhador. Menino que sempre correu atrás do que é dele. Não tem envolvimento, não tem passagem, não tem nada. Eu gostaria de uma explicação desse policial aí e o porquê ele fez isso", diz o pai.

A Corregedoria da PM identificou e afastou das ruas 13 policiais envolvidos na ocorrência. O secretário da Segurança Pública, Guilherme Derrite, gravou um vídeo em que critica a atitude dos policiais.

"Essa ação não encontra respaldo nenhum nos procedimentos operacionais da Polícia Militar. Ações isoladas como essa não podem denegrir a imagem de uma instituição que tem quase 200 anos de bons serviços prestados para nossa população no estado de São Paulo. Não vamos tolerar nenhum tipo de desvio de conduta de nenhum policial no estado de São Paulo", afirma Derrite.

O Procurador-Geral de Justiça do Estado, Paulo Sérgio de Oliveira e Costa, disse que a conduta dos policiais é inadmissível.

"O suspeito já estava absolutamente dominado, bastava com que os policiais naquele momento o levassem para o distrito policial. As imagens são estarrecedoras. Pelo o que se verifica, já determinei que o grupo de acompanhamento especial em segurança pública atue junto ao promotor de Justiça natural de forma a buscar o acompanhamento judicial, bem como a punição exemplar dos responsáveis."

O Ouvidor das Polícias de São Paulo, Cláudio Silva, afirmou que os PMs envolvidos tomaram essa atitude achando que ficariam impunes.

"Esse tipo de postura dos policiais demonstra que eles acreditam muito que a impunidade vai perpetuar. Não é a polícia que a gente deseja, não é a polícia que nos contempla com a segurança que efetivamente a população merece ter."

Reação do governador

O governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), comentou os dois casos em uma rede social.

Tarcísio afirmou que "a Polícia Militar de São Paulo é uma instituição que preza, seu profissionalismo na hora de proteger as pessoas", que o policial está na rua para enfrentar o crime e para fazer com que as pessoas se sintam seguras, que quem atira pelas costas ou chega ao absurdo de jogar uma pessoa da ponte, não estão à altura de usar essa farda.

O governador afirmou que os casos serão investigados e rigorosamente punidos.

Fonte: G1