Em 20 de abril de 2008, o caso do ‘Padre do Balão’ chamava atenção no Brasil. Muitas pessoas pararam para acompanhar uma cena, no mínimo, inusitada: um padre flutuando nos céus do litoral do Paraná preso a centenas de balões coloridos de gás hélio.
Adelir Antônio de Carli, de 41 anos, partia de Paranaguá rumo ao interior de Mato Grosso do Sul com um objetivo ousado: voar por 20 horas e arrecadar recursos para uma obra social. A viagem, no entanto, teve um desfecho trágico que ainda hoje emociona e intriga. Dezessete anos depois, o caso do “padre do balão” continua sendo lembrado.
Adelir nasceu em 8 de fevereiro de 1967, na cidade de Ampére, no sudoeste do Paraná. A trajetória religiosa teve início em agosto de 2003, quando foi ordenado sacerdote. Pouco tempo depois, assumiu a Paróquia São Cristóvão, em Paranaguá, no litoral do estado.
Carli era conhecido por sua atuação voltada para causas sociais. Em 2004, idealizou e colocou em prática a Pastoral Rodoviária, um projeto que oferecia suporte espiritual e serviços básicos a caminhoneiros que cruzavam o porto da cidade. Além disso, ganhou notoriedade por denunciar abusos cometidos contra pessoas em situação de rua, enfrentando inclusive autoridades locais.
Fora da igreja, o padre tinha um espírito aventureiro. Paraquedista experiente, ele passou a se interessar por voos com balões de gás hélio, uma prática inusitada que pretendia transformar em forma de protesto social e captação de recursos para uma obra comunitária: um local de descanso para caminhoneiros.
Antes da fatídica viagem de abril de 2008, padre Adelir já havia realizado com sucesso um voo semelhante. No dia 13 de janeiro daquele ano, partiu da cidade de Ampére e aterrissou em San Antonio, na Argentina, após percorrer 25 quilômetros a bordo de 600 balões e atingir uma altitude de mais de 5.300 metros.
Esse sucesso inicial deu confiança ao religioso, que começou a planejar algo maior: uma jornada aérea de 20 horas, que o colocaria como recordista mundial nesse tipo de voo, superando dois norte-americanos que haviam permanecido 19 horas suspensos por balões.
No dia 20 de abril, mesmo com o céu nublado e previsão de instabilidade climática, o padre seguiu com a decolagem. Mas antes, ele celebrou uma missa com fiéis e amigos próximos.
Preso a uma cadeira adaptada e sustentado por mil balões cheios de gás hélio, ele decolou por volta das 13h. A intenção era cruzar o espaço aéreo entre Paranaguá e Dourados, no Mato Grosso do Sul. O equipamento de voo incluía paraquedas, capacete, roupas térmicas, GPS, telefone celular, rádio satelital, coletes salva-vidas, alimentos e água.
Logo após a decolagem, o padre surpreendeu a equipe de apoio ao atingir uma altitude de 5.800 metros. Em contato por rádio, relatou frio intenso: “Graças a Deus estou bem de saúde, consciência tranquila. Está muito frio aqui em cima, mas tá tudo bem”, disse ele em uma das últimas comunicações.
A noite Adelir perdeu o controle da rota e relatou falhas no aparelho de GPS. A última comunicação com a Polícia Militar ocorreu por volta das 21h. Na ocasião, ele informou estar a cerca de 25 quilômetros de São Francisco do Sul, em Santa Catarina.
As condições meteorológicas pioraram, e acredita-se que o religioso tenha sido levado pelo vento para o mar. Após essa última mensagem, perdeu-se completamente o contato com ele. A partir de então, iniciava-se uma operação de busca.
Equipes da Marinha, da Força Aérea e do Corpo de Bombeiros passaram semanas vasculhando a costa sul do país. Voluntários também se uniram à força-tarefa, em uma corrida contra o tempo.
O desaparecimento do padre durou mais de dois meses. Em 4 de julho de 2008, um rebocador a serviço da Petrobras encontrou restos mortais no mar, próximo à cidade de Maricá, no Rio de Janeiro. A identificação foi feita através de exame de DNA, que comparou o material genético com o de um irmão de Adelir.
O corpo do padre foi levado primeiro a Paranaguá, onde foi recebido sob aplausos por dezenas de fiéis reunidos em vigília. Na Paróquia São Cristóvão, onde atuava, uma missa especial foi celebrada em sua memória. Depois, seguiu para Ampére, sua cidade natal, onde foi sepultado.
Fonte RICTV

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