Arqueólogos encontraram dois conjuntos de algemas de ferro do Egito Antigo que foram datadas com 2,2 mil anos. Por seu formato e o local em que foram encontradas, em uma mina de ouro abandonada, os pesquisadores acreditam que eram algemas para tornozelos de alguns dos primeiros escravizados da humanidade.
A descoberta, publicada na revista Antiquity em 13 de março, lança luz sobre o “custo humano” da mineração durante o Império Antigo egípicio e é uma das primeiras evidências de humanos sendo obrigados a fazer trabalhos forçados.
Para os investigadores franceses que encontraram as algemas, elas eram usadas para restringir tornozelos, o que sugere que o trabalho das minas era feito por prisioneiros de guerra e/ou criminosos.
Segundo a arqueóloga Bérangère Redon, do Laboratório HiSoMA, na França, as algemas complementam textos antigos que descrevem condições brutais nas minas. “Os objetos fornecem evidências irrefutáveis do status dos mineiros, o que não tínhamos até agora”, afirmou ela em comunicado à imprensa.
O complexo de Ghozza, a região mineira onde os objetos foram encontrados, incluía uma vila com áreas residenciais, banhos e ruas. Centenas de óstracos — fragmentos de cerâmica usados como “papel de rascunho” — revelam que alguns trabalhadores recebiam salários. No entanto, a presença de algemas indica que o trabalho forçado também era parte da realidade.
“Pensamos que a maioria dos mineiros era livre, pois não encontramos dormitórios vigiados em Ghozza”, explicou Redon. Em outras minas, dormitórios eram controlados por portarias estreitas, sugerindo maior vigilância. A descoberta das algemas, no entanto, aponta para a existência de exploração e restrição de movimentos muito anterior ao que se imaginava.
As algemas de Ghozza lembram as encontradas nas minas de prata de Laurion, na Grécia. Isso sugere que os gregos trouxeram técnicas de mineração para o Egito. O ouro extraído financiou ambições militares e artefatos ornamentais, mas a um alto custo humano.
Um conjunto de algemas incluía sete anéis de tornozelo e dois elos, enquanto outro tinha quatro elos e fragmentos de anéis. Os objetos foram achados em um edifício de armazenamento, junto com ferramentas de ferro. A descoberta reforça a ideia de que a mineração era uma atividade complexa, envolvendo tanto trabalhadores livres quanto escravizados.
Desde 1994, a Missão Arqueológica Francesa no Deserto Oriental investiga mais de 20 sítios no Egito, com foco em minas e fortes romanos. Escavações em Ghozza continuam na esperança de identificar áreas de contenção e esclarecer as condições de vida dos trabalhadores.
“A configuração da vila sugere que a população tinha liberdade de movimento, então as algemas nos surpreendem”, disse Redon.
Fonte: Metrópoles
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