A mulher acusada pela morte de dois irmãos, por envenenamento, em Parnaíba, no litoral do Piauí, deixou a cadeia após quase cinco meses. Lucélia Maria da Conceição, de 52 anos, foi libertada da prisão depois que um laudo pericial mostrou que a os cajus que ela doou à família das crianças não tinham veneno. A suspeita deixou a penitenciária na noite de segunda-feira (13).
Os cajus passaram por mais uma perícia depois que a família dos meninos foi vítima de um novo caso de envenenamento, no primeiro dia deste ano, que causou mais quatro mortes. Assim, o padrasto da mãe dos garotos passou a ser o principal suspeito pela mortes.
Irmãos morreram por envenenamento
João Miguel da Silva, de 7 anos, e Ulisses Gabriel da Silva, de 8 anos, morreram após serem envenenados em agosto de 2024. O irmão mais jovem faleceu poucos dias após o envenenamento e o mais velho morreu em outubro, após mais de dois meses de internamento.
Na época do caso, a polícia passou a investigar Lucélia, que havia oferecido cajus para a família das vítimas. A mulher foi então detida pelos policiais e teve que ser protegida de uma tentativa de linchamento por moradores da região em que ela morava. Em seguida, enquanto a suspeita era ouvida pelos investigadores, algumas pessoas atearam fogo na residência de Lucélia, que ficou totalmente destruída.
Prisão foi revogada após novo caso de envenenamento
Única suspeita pelo crime até então, Lucélia permaneceu quase cinco meses na Penitenciária Feminina de Teresina. No entanto, o caso foi reaberto no início do mês, depois que um caso de envenenamento causou a morte de quatro parentes dos garotos. Todos eles consumiram arroz envenenado no primeiro dia do ano.
A quarta vítima deste novo envenenamento morreu na madrugada do último dia 7. Francisca Maria da Silva, de 32 anos, era mãe de João Miguel e Ulisses. Além dela, também morreram mais dois filhos dela, Igno Davi da Silva, de 1 ano e 8 meses. e Lauane da Silva, de 3 anos, e Manoel Leandro da Silva, de 18 anos.
A Polícia Científica do Piauí confirmou a presença de um pesticida tóxico, conhecido como “chumbinho”, no organismo das vítimas. A Polícia Civil do estado afirmou que passaram por exame toxicológico um baião de dois – prato feito com arroz e feijão pela própria família – e peixes que eles tinham recebido como doação.
Padastro de uma das vítimas está preso
Um dia após a morte de Francisca Maria, o padrasto dela, Francisco de Assis Pereira da Costa, de 53 anos, foi preso. Conforme a Polícia Civil do Piauí, foi ele quem colocou o veneno no arroz que foi consumido pelos familiares.
De acordo com a TV Antena 10, afiliada da Record TV no Piauí, o suspeito teria sido a última pessoa a dormir após a festa de Réveillon realizada pela família. No dia seguinte, conforme a polícia e relatos de outra enteada do suspeito, ele teria insistido para que fosse reutilizado o arroz que havia sobrado da confraternização familiar.
Suspeito tinha relação conturbada com enteados
Após ser detido pela polícia, Francisco confirmou em depoimento que tinha uma relação conturbada com os enteados, principalmente com Francisca, uma das vítimas do envenenamento.
“Ele prestou três depoimentos e revelou que eles tinham um relacionamento conturbado. Ele não falava com os enteados, ele tinha um sentimento de ódio com relação à Francisca, mãe das crianças. Esse sentimento era tão grande que mesmo ela no leito da morte, ele não conseguia esconder”, contou o delegado Abimael Silva à TV Antena 10.
“Ele disse que ela era uma criatura que tinha uma mente boba, tola, matuta, morta de preguiça, não servia pra nada, quase inútil, passava o dia todo ouvindo música de apologia, música de ‘mala’, que ela não procurava um homem que trabalha, só vagabundo. E que tinha um desejo que ela saísse de casa por ser uma criatura de mente vazia. Disse que quando olhava sentia nojo e raiva dela”, detalhou o delegado.
Advogado aguarda declaração de inocência de suspeita que foi solta
Com as novas evidências apontando um possível envolvimento de Francisco também no envenenamento dos irmãos João e Ulisses, e o laudo confirmando que os cajus não estavam envenenados, o advogado de Lucélia agora aguarda uma declaração de inocência para sua cliente. Ele pretende ainda entrar com um pedido de indenização pelos danos morais e materiais sofridos pela cliente.
“Após a instrução do processo nós estamos em busca da declaração da inocência da senhora Lucélia numa sentença judicial absolutória em trânsito julgado. Após isso acontecer nós muito provavelmente devemos ingressar com essa ações de ressarcimento indenizatórios. O meu problema não são com as autoridades, o problema é o processo em si; prova subjetiva, déficit na investigação. O princípio da presunção de inocência não foi observado em nenhum momento”, conta Sammai Cavalcante.
Ele considerou “hipocrisia” deduzir que apenas a mulher teria em sua casa a substância apontada como tendo sido usada para o suposto envenenamento das frutas.
“Quando o estopim do crime aconteceu, depredaram a casa dela, a polícia fez uma busca na casa dela, é completamente desarrazoado e incabível achar que só a Lucélia tem dentro da casa dela uma substância para controle de pesticidas. Isso é uma hipocrisia, pessoas que vivem nessas comunidades têm dentro das residências esse tipo de substância, é uma hipocrisia ‘linkar’ um suposto envenenamento do fruto, o que foi comprovado que nunca aconteceu”, declarou à TV Antena 10.
Suspeita inicial revela dias de pavor na prisão
Também em entrevista à TV Antena 10, Lucélia deu detalhes sobre o período de cárcere. Ela explicou que ao longo de todos esses meses detida buscou ficar mais reclusa e evitar maiores contatos com outras detentas.
“Eu ficava todo tempo na minha cama, sentada lendo a bíblia e orava. Evitava ficar no meio dos outros que ficavam me criticando. Ficava todo tempo no meu canto com medo delas fazerem alguma coisa comigo, pois não acreditavam na minha palavra. Eu não aguentava mais estar ali. Fiquei com muito medo. Ela ficavam dizendo que não gostavam de quem maltratava criança, que matava criança; que uma pessoa dessa merecia apanhar e até morrer. Isso eu ouvia muito”, narrou.
“Foi muito triste viver aquilo ali e nunca tinha passado pela minha cabeça ser presa daquele jeito por injusta causa. Lembrava da minha família dia e noite chorando. Quando eu soube que minha casa foi destruída, eu chorei mesmo. Desde o começo quando fui presa eu disse que não era eu, mas ninguém acreditava”, complementa.
Fonte: RICtv
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