Estudo explica por que parte das pessoas infectadas pela dengue não apresenta sintomas

Foto: Reprodução

Os sintomas da dengue variam de acordo com a resposta do organismo à infecção pelo vírus. É comum que algumas pessoas sejam infectadas e não apresentem qualquer sintoma, ao passo que outras desenvolvem formas graves e até potencialmente fatais da doença.

O que explica uma variação tão grande dos quadros clinicos? Foi tentando responder a essa pergunta que pesquisadores das universidades de Mahidol, na Tailândia, e de Cambridge, no Reino Unido, publicaram um estudo na revista Science Translational Medicine nessa quarta-feira (17/12).

A pesquisa, que incluiu grupos com históricos de dengue variados, mostrou que casos sem sintomas aconteceram em pacientes que ativaram respostas celulares mais eficientes e específicas. A eficácia deles pode até ser inspiração para novas formas de combater a dengue — os assintomáticos eliminaram o vírus do organismo rapidamente, sem levar a uma ativação de resposta inflamatória, quadro que predomina em situações sintomáticas e graves, ajudando a explicar por que apenas parte dos infectados adoece.

O que acontece no sangue dos assintomáticos

Pesquisadores analisaram células do sistema imunológico de indivíduos com infecção assintomática, dengue clássica e dengue grave. A comparação entre esses grupos permitiu observar padrões distintos de resposta ao agente infeccioso. Para investigar o problema, cientistas analisaram células do sangue observando a atividade genética de cada unidade envolvida na resposta imune.

Os dados mostraram que pessoas sem sintomas apresentam maior ativação de linfócitos T CD8. Esses componentes atuam na eliminação de estruturas contaminadas pelo vírus de forma precoce. Também foram identificados perfis específicos de células natural killer, conhecidas como NK. Essas estruturas participam da defesa antiviral inicial. A presença desse padrão sugere resposta rápida ao patógeno.

“Esses achados sugerem que respostas celulares robustas podem estar associadas à proteção natural contra os sintomas da dengue, como se o corpo tivesse uma capacidade de reconhecer o vírus com maior agilidade e conseguisse ativar as defesas corretas no tempo certo”, apontam os pesquisadores nas conclusões do estudo.

Quando a resposta favorece a gravidade

Entre pacientes com dengue sintomática, sobretudo em quadros graves, o padrão foi diferente. Os cientistas observaram sinais ligados à entrada do vírus mediada por anticorpos. Também houve expansão de plasmablastos produtores de imunoglobulinas.

Esse processo esteve associado à ação da citocina IL-10. A substância é conhecida por modular respostas inflamatórias e a resposta pode favorecer inflamação excessiva. O achado está alinhado a hipóteses já discutidas na literatura científica sobre mecanismos que levam à dengue grave.

Além da análise pontual, o estudo acompanhou pacientes sintomáticos por até dois meses. Esse seguimento permitiu observar a evolução da resposta imunológica. As variações indicam que o desfecho da dengue não depende de fator isolado. O curso da doença resulta da interação entre múltiplos elementos do sistema imunológico.

Os achados podem orientar estratégias práticas no futuro. O conhecimento sobre respostas imunes protetoras contribui para o desenvolvimento de vacinas. Ao revelar como o organismo reage de formas distintas ao mesmo vírus, a pesquisa ajuda a enfrentar doença que segue como desafio global de saúde pública.

A professora Pollyana Júnia Felicidade, do curso de Enfermagem da Una Uberlândia, que não participou do estudo, alerta que os principais sintomas da dengue incluem febre alta, dor no corpo e nas articulações, dor atrás dos olhos, manchas vermelhas na pele, cansaço, náuseas e vômitos, que surgem entre três e 14 dias após a picada e exigem atenção especial em gestantes, crianças e idosos.

“Nos quadros mais graves, sinais como sangramentos, queda de pressão, vômitos persistentes, pouca urina e redução das plaquetas indicam necessidade de atendimento médico imediato. A reinfecção é possível e aumenta o risco de quadros graves, reforçando a importância de atenção contínua aos sintomas e de evitar a automedicação”, conclui Pollyana.