O câncer de pulmão é um dos mais comuns e letais no Brasil e no mundo. A maioria dos casos é diagnosticada em estágios avançados, quando as opções de tratamento são mais limitadas.
Por isso, métodos que permitam identificar a doença mais cedo e definir o tratamento com maior precisão são considerados essenciais pela oncologia moderna.
Um estudo brasileiro apoiado pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp) mostra que a chamada biópsia líquida avançou como uma ferramenta promissora para detectar mutações genéticas associadas ao câncer de pulmão.
A pesquisa foi conduzida no Hospital de Amor, em Barretos, referência nacional em tratamento oncológico, e teve resultados publicados em outubro pela revista científica Molecular Oncology.
Diferentemente da biópsia tradicional, que exige a retirada de um fragmento do tumor por meio de procedimentos invasivos, a biópsia líquida é feita a partir de uma simples coleta de sangue. O exame busca fragmentos de DNA tumoral circulante, liberados pelo próprio tumor na corrente sanguínea.
Essa abordagem reduz riscos para o paciente, facilita a repetição do teste ao longo do tratamento e pode encurtar o tempo entre a suspeita da doença e a definição do melhor tratamento. Em vez de esperar semanas pelo resultado de uma biópsia convencional, a análise genética pode ficar pronta em poucos dias.
O ponto-chave do estudo
Os pesquisadores analisaram amostras de sangue de pacientes com câncer de pulmão de células não pequenas (CPCNP) e identificaram mutações genéticas em uma parcela significativa dos casos.
As alterações mais frequentes ocorreram em genes já conhecidos por influenciar o crescimento do tumor e a resposta aos tratamentos, como TP53, KRAS e EGFR. Em alguns pacientes, essas mutações ajudam a indicar o uso de terapias-alvo, que agem diretamente sobre alterações específicas do câncer.
Um dos achados mais relevantes foi a identificação de uma mutação genética em um participante que ainda não apresentava sintomas, meses antes do diagnóstico clínico tradicional, o que reforça o potencial da técnica para monitoramento e rastreamento em pessoas de risco.
Apesar dos avanços, a biópsia líquida ainda não substitui totalmente a biópsia convencional. Um resultado negativo no exame de sangue não descarta a presença de mutações, especialmente em estágios iniciais da doença, quando a quantidade de DNA tumoral circulante pode ser muito baixa.
O custo também é um obstáculo. O painel genético utilizado no estudo custa cerca de R$ 6 mil por paciente, valor que dificulta a incorporação ampla da técnica no Sistema Único de Saúde (SUS). Mesmo na saúde suplementar, o acesso ainda é limitado e muitas vezes depende de decisões judiciais.
Por enquanto, os pesquisadores responsáveis pelo estudo ressaltam que o exame deve ser visto como um complemento às ferramentas já existentes, e não como um substituto imediato da biópsia tradicional.
Fonte: Metrópoles
Foto: Reprodução

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