Após perder o braço em ataque de tigre, jovem transforma tragédia em força e trilha carreira na natação profissional

Foto: Arquivo pessoal

Onze anos após ter que amputar o braço ao ser atacado por um tigre no Zoológico Municipal de Cascavel, no oeste do Paraná, Vrajamany Fernandes Rocha, de 22 anos, reconstruiu a própria trajetória através do esporte. O acidente aconteceu em 2014, quando ele tinha 11 anos e colocou o braço entre as grades do recinto do animal. Hoje, o jovem é atleta profissional de natação e conquistou 10 títulos brasileiros.

Ele afirma que o acidente não determinou seu futuro, mas abriu um caminho inesperado.

“Eu nunca tive arrependimento. Nem lembro que perdi o braço. Minha recuperação foi tranquila”, diz.

Vrajamany sobreviveu ao ataque do tigre, passou por uma amputação e iniciou um processo de reabilitação que o levou ao esporte. Aos 15 anos, ele conheceu a natação como parte da reabilitação e, desde 2018, treina no Centro Paralímpico Brasileiro, em São Paulo, e sonha em participar das Paralímpiadas de 2028.

"Quando eu comecei a ter contato com outros atletas da seleção brasileira, vi que esse pessoal já sofreu muito na vida, mas superou as dificuldades e continuou. A força dos atletas paralímpicos me inspirou muito, quando os conheci decidi virar atleta profissional", conta Vrajamany.

Como foi o ataque em 2014
O acidente ocorreu quando Vrajamany visitava o zoológico durante as férias na casa do pai. Segundo investigação da Polícia Civil e relatos de cuidadores, o homem teria incentivado o menino a se aproximar das jaulas para “brincar” e tirar fotos com os animais.

Vídeos gravados por visitantes mostram o garoto do lado de dentro da área de segurança, alimentando um leão pela grade e correndo em volta do recinto do tigre. Em determinado momento, ele coloca o braço entre as barras, quando é atacado pelo felino.

Testemunhas disseram que a vítima e o pai ignoraram avisos e placas de proibição e alertaram a equipe do zoológico ao perceber o risco. O menino foi socorrido e levado ao Hospital Universitário de Cascavel em estado grave. Ele passou por cirurgia e precisou amputar o braço.

Em 2019, cinco anos após o ataque, a Justiça condenou o pai, Marcos do Carmo Rocha, por lesão corporal e omissão.

Ele recebeu pena de três anos em regime aberto, com prestação de serviços e restrições de circulação. Segundo a sentença, o pai não impediu a aproximação do filho e tinha consciência do perigo.

O jovem começou a treinar na adolescência como parte da reabilitação após a amputação do braço. Ele conta que a escolha da natação foi da mãe, que buscou a opção mais segura a futuros acidentes.

“Eu odiava natação. Era muito difícil, muito árdua, eu não evoluía”, lembra.
O atleta iniciou os treinos em um clube pequeno, em São Paulo. O projeto acabou pouco tempo depois, mas o professor seguiu acompanhando e o ajudou gratuitamente até conseguir uma vaga para ele na equipe de base do Comitê Paralímpico Brasileiro, em 2018.

Segundo Vrajamany, o contato com atletas experientes mudou tudo. Foi naquele momento que ele decidiu seguir carreira no esporte de alto rendimento.

“Quando conheci pessoas que já tinham disputado Mundial e Paralimpíada, percebi a força deles. Isso me inspirou muito”, conta.
Até então, ele era um dos últimos colocados nos rankings nacionais. A virada aconteceu durante a pandemia, quando os treinos presenciais foram suspensos. Determinado a não parar, montou sozinho um protocolo físico e alimentar.

O trabalho deu resultado. Em 2021, depois de quase dois anos treinando por conta própria, voltou às competições e conquistou o primeiro lugar nos 200 metros e o segundo melhor tempo do país na modalidade borboleta.

“Saí de um dos piores nadadores do Brasil para o segundo melhor na modalidade borboleta”, afirma orgulhoso.

Fonte: G1