Alunos de medicina fazem festa de R$ 1,4 milhão para comemorar a metade do curso

 Alunos de medicina fazem festa de R$ 1,4 milhão para comemorar a metade do curso

Foto: Divulgação/Formô Brasil São Paulo

Alunos do curso de medicina mais caro do país, que pagam mensalidades de quase R$ 14 mil, viralizaram nas redes sociais ao mostrar os bastidores de uma festa de arromba (como diriam os avós deles) no último sábado (24): um evento que custou R$ 1,4 milhão de reais, no interior de São Paulo.

Não, não era uma comemoração pelo diploma. Os jovens da Faculdade São Leopoldo Mandic, em Campinas (SP), estavam celebrando o que um deles chamou de “formatura de meio-médico”, já que chegaram à metade da graduação.

Havia “open” de McDonald’s e de Balas Fini, estandes de marcas como Campari e Cacau Show, 6 atrações musicais e palco igual ao de grandes festivais.

  • 💰Quanto cada estudante pagou? Os alunos que já tinham aderido ao pacote completo da formatura (que custou de R$ 25 mil a R$ 30 mil) tiveram direito a levar 4 acompanhantes para a festa. Os demais desembolsaram R$ 7,7 mil.

Festejar o fim do 6º semestre de um curso longo, extenuante, caro (no caso da rede privada) e concorrido virou, de fato, uma tradição entre os alunos de medicina no Brasil. Eles costumam até tirar fotos em que vestem só uma manga do jaleco, para simbolizar que “falta só mais um pouco”.

Mas, em geral, os encontros são, digamos, mais simples do que esse da Mandic [veja exemplos mais abaixo, como o de um dos cursos mais baratos do país].

“Os alunos dessa faculdade costumam querer tudo o que for de mais grandioso e luxuoso”, afirmou ao g1 uma das organizadoras do evento. “É um costume deles. Pediram espaço temático de doces, por exemplo. Era uma doceria gigantesca.”

Uma estudante que estava na festa e que preferiu não se identificar conta que essa é uma forma de comemorar um sonho de todos eles: o de fazer medicina.

“As dificuldades são bem individuais, mas, como já imaginam, a maior está em ser um curso que necessita de muito esforço e abdicação desde o início”, diz.

“A diferença é que, na tradição da nossa faculdade, a festa costuma ser um pouquinho maior.”

A Mandic não faz parte de programas do governo como Prouni (que dá bolsas de estudo para alunos de baixa renda) ou Fies (que proporciona financiamento das mensalidades). Procurada pelo g1 para opinar sobre as festas “retumbantes”, a instituição de ensino não havia respondido até a última atualização desta reportagem.

🎫Quanto custavam os convites avulsos? Parte da cerimônia foi bancada pela venda de 600 lugares extras na mesa dos convidados. No primeiro lote, cada ingresso individual foi oferecido por R$ 600.

🥂Quantas pessoas compareceram? Segundo a Formô, empresa organizadora do evento, eram 1.500 convidados, entre “meios-médicos”, familiares e amigos.

⌚Qual a duração da festa? A comemoração começou às 21h e acabou às 7h do dia seguinte.

“A complexidade desses eventos é enorme. Por isso, trabalhamos com fornecedores premium e coordenamos mais de 250 pessoas por evento”, afirma Jair Formigari, head de unidade da Formô Campinas.

🍾Qual era o cardápio? Para beber, os convidados tinham à disposição cervejas de três marcas, chopp, gin, vodka, whisky, licor, rum, saquê, espumante, tequila, energético, refrigerante, sucos e água.

Na parte gastronômica, além do buffet de jantar, ainda havia estandes de marcas parceiras, como Cacau Show, Fini e McDonald’s (os lanches foram servidos à vontade por determinado período).

Foram oferecidos ainda comes e bebes em três espaços temáticos: “after” (para depois do fim da festa), “beach club” e “espaço doceria”.

‘Meio-médico’ significa festa de luxo?

No curso de medicina da Universidade de Rio Verde (UniRV, em Goiás), um dos particulares mais baratos do país (a mensalidade é de cerca de R$ 6 mil), a festa de “meio-médico” teve outro estilo: uma estrutura menor, cardápio menos “saboroso” e nenhuma parceria com grandes marcas.

“Cada turma escolhe como vai fazer. Algumas já optaram por só reunir todo mundo em uma ‘tardezinha’, por exemplo, para não gastar com roupa ou produção. Quando vi esse vídeo que viralizou, falei com meu noivo: ‘nossa, amor, a realidade deles foi muito diferente da nossa, né? Pareceu uma formatura de verdade’”, conta Gabriella Cândido, de 22 anos, estudante de medicina da Unirv.

A jovem, que é bolsista, não tinha condições financeiras para comprar o pacote completo das festas de medicina. Por isso, decidiu participar apenas da comemoração de “meio-médico” (e pagou os R$ 420 do ingresso vendendo rifas na faculdade).

“Eu acho que o intuito da festa é nesse sentido de ‘o curso é pesado, a gente merece’. Mas eu, individualmente, não vejo dessa forma, porque não tenho essa condição financeira. Para mim, é algo como ‘consegui chegar até aqui com muita luta; é um degrau de cada vez”, conta Gabriella.

No Centro Universitário Serra dos Órgãos, na região serrana do Rio de Janeiro, a tradição do “meio-médico” também existe, assim como as comemorações de “Clinicou” (no fim do 4º período) e do “Internou” (no fim do 8º).

“Mas essa festa do vídeo que viralizou parece ter sido muito fora da curva das normais que acontecem no meio médico”, conta Anna Luisa Tuller, aluna da instituição.

No caso dela, o ingresso foi R$ 400 (versus R$ 7,7 mil na Mandic), e o custo total da cerimônia, de R$ 28 mil (em oposição aos nada singelos R$ 1,4 milhão da que bombou nas redes).

Fonte: G1

Redação Beltrão Agora

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